Rua dos Cegos

reabilitação e ampliação de edifício para alojamento local

Lisboa, 2017-2019

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Esta obra surge da reabilitação integral de um edifício pré pombalino de construção corrente (datado entre 1620-1720), composto por 5 pisos e águas furtadas e que se compõe por um total de 5 apartamentos totalmente dedicados a alojamento local.

Este tipo de edificação, muito característica dos bairros medievais junto do Castelo de São Jorge, resistiu ao grande terramoto que assolou a cidade em 1755 e teu um cariz tipológico popular muito vincado, caracterizando-se pela reduzida largura de fachada que contrasta com a extrema profundidade de empena (terminando quase sempre, a tardoz, com um saguão), pés direitos muito baixos, escadas de tiro com inclinação muito acentuada e localizadas numa das extremidades e  paredes de alvenaria muito espessas com poucas aberturas para o exterior.

A reabilitação contemplou a ampliação de mais um piso acima do solo mantendo a estrutura tipológica inicial (escadas, saguão e fachada principal), pelo que o projecto incidiu maioritariamente no redesenho dos apartamentos, procurando a melhor forma de os habitar e adaptar a novas vivências, tendo em conta a sua exiguidade, funcionalidade e exposição solar. Optou-se por privilegiar as zonas sociais dos apartamentos (salas e kitchenettes), colocando-as junto à fachada principal, com orientação sudeste, onde, ao nível dos últimos pisos se pode desfrutar de uma deslumbrante vista sobre a cidade e o rio. Os quartos localizam-se a tardoz, junto ao saguão. Na faixa mais estreita e central de cada apartamento desenharam-se as instalações sanitárias, cobertas por um sistema ripado de painéis e portas ocultas que uniformiza e limpa o espaço de circulação adjacente. O último apartamento aproveita, no piso das águas furtadas, parte da área útil da cobertura e a introdução de um pé direito mais amplo confere dignidade às suas áreas comuns.

Trata-se de uma obra de habitação corrente destinada a turismo (na modalidade de alojamento local), despojada de qualquer pretensão formal, com um programa limitado e amarrado a uma teia de legislação urbanística muito restritiva que impede a formalização de grandes “rasgos arquitectónicos”. No entanto, apesar de todas estas limitações, o desafio imposto deste o licenciamento do projecto até ao final da obra foi enorme. Apesar das condições de exiguidade limitadas, o cenário da obra foi palco de várias experiências de “relojoaria” que se iniciaram com a nova estrutura e só terminaram com os acabamentos. Demos vida a um novo edifício cumprindo todas as premissas da boa construção e da regulamentação em vigor. Respeitámos os materiais existentes através do prolongamento da sua identidade, com uma preocupação constante desde as primeiras demolições até aos últimos acabamentos. A sua coerência final acabou por ser o resultado de todos os seus constrangimentos. A sua memória prevalece e continuará viva por muito tempo e é isto que, para nós, é reabilitar.



Localização  Rua dos Cegos 12-14, Lisboa

Cliente  Privado

Projecto  2018

Área de Construção  287,00 m2

Arquitectura  Sónia Carvalho Cabaça, Ana Peixoto Pereira

Empreiteiro Geral   Recreare lda.