O edifício do antigo mercado municipal localiza-se junto ao principal acesso ao centro histórico da cidade e na proximidade de algumas das intervenções impulsionadoras de novos fluxos e relações urbanas que fazem parte da estratégia que tem vindo a ser implementada pelo Município de Abrantes.  A área de intervenção é neste momento um espaço descaracterizado e marginal ao tecido urbano consolidado. 

A premissa de manutenção da volumetria principal do edifício existente foi o ponto de partida inicial para a abordagem da presente proposta. Tomou-se a opção de organizar o programa sem alterar a sua identidade de forma a que a memória colectiva deste lugar seja reconhecida pela população e se prolongue no tempo. Apesar do actual contexto de degradação, consideramos que o edifício existente contém uma uma qualidade espacial e arquitectónica que deverá ser aproveitada.Pretende-se manter o carácter destes espaços de modo a que preservem a sua integridade e essência, fazendo deles a força motriz do projecto, adaptando o programa às qualidades inerentes a cada um (e não o contrário) e adicionando, delicadamente e de forma eficiente e clara, novos elementos contemporâneos que, no seu conjunto, irão dar origem ao novo Multiusos.A estratégia conceptual passa, em primeiro lugar, pela eliminação das construções dissonantes edificadas ao longo do tempo de forma a que a linguagem do edifício inicial seja novamente reconhecida e pela recriação de uma identidade que perpetue a sua linguagem, a nosso ver intemporal, tendo por base a reinterpretação dos seus elementos decorativos (que designamos de cobogós) e estrutura recticulada.Na zona da inflexão da Avenida 25 de Abril desenhou-se uma nova Praça Pública, que fará emergir uma forte relação com o edificado existente e que funcionará como elemento de união e remate espacial entre os diversos cenários urbanos. Com ela surge também a oportunidade de oferecer mais um equipamento de lazer para usufruto da população - um espaço de permanência e de contemplação, para onde se poderá também trazer uma peça de arte, eventualmente de um artista local, a colocar sob o novo edifício construído à cota superior.Sobre esta Praça, propõe-se a construção de um novo volume, que se impõe como remate da charneira entre o Centro Histórico e o vale da Fontinha e que, ao mesmo tempo, permite a consolidação da frente da Avenida 25 de Abril. Este novo elemento comunica com o piso expositivo principal através de um passadiço. O acentuado declive do terreno a poente é um factor determinante para as opções morfológicas e conceptuais da proposta. Propõe-se a construção de um novo volume à cota do piso inferior do mercado (antiga zona do mercado do peixe), com entrada a poente pelo parque que, ao mesmo tempo, se adossa naturalmente ao terreno existente e constitui uma ancora para fixação de novas vivências, requalificando toda esta área, até agora marginal.