O espaço correspondente ao nº 68 da Avenida 22 de dezembro é um dos poucos vazios urbanos existentes no centro da cidade de Setúbal que deverão, inquestionavelmente, ser preenchidos. A sua localização numa das principais artérias da cidade e a relação de proximidade que possui com o Convento de Jesus são duas das principais razões fundamentais para o desenvolvimento deste “pedaço de cidade” que se encontra (ainda) por preencher. Tendo em conta a singular morfologia do local bem como a sua altíssima sensibilidade ao nível dos valores patrimoniais, a intervenção proposta procurou um compromisso entre um elemento de arquitectura contemporânea que, ao mesmo tempo, coexista e se relacione harmoniosamente com as pré existências, tentando imprimir uma linguagem de continuidade no que diz respeito à leitura de “alçado de rua”. O novo edifício é composto por um volume que imprime um ritmo constante de cheios e vazios que se alternam entre a massa estrutural representada pelo reboco e pela pedra e a transparência reproduzida pelo vidro. Desenvolvendo-se contiguamente à Avenida 22 de dezembro e preenchendo quase totalmente a sua frente, compreende três pisos acima do solo e não possui caves por se localizar numa zona ameaçada por cheias. O último piso do edifício foi estratégica e parcialmente recuado de modo a fortalecer a sua relação com a casa senhorial e com a Avenida 5 de outubro e o edifício confinante. O alinhamento altimétrico da cota da sua platibanda com o trapeirão da casa senhorial reforça a ligação e diálogo entre os dois edifícios do empreendimento e a rotação e recuo do volume na empena sul decompõe a sua massa, imprimido uma maior leveza na relação com aquela artéria. A nova edificação, cuja implantação em forma de “L” se desenvolve também para o interior do lote, divide-o em dois pátios de diferentes características: um de maiores dimensões e contíguo ao edifício a recuperar que albergará um parque de estacionamento exterior para 12 viaturas e jardim e outro, de menor proporção e à cota do piso 1, que será exclusivamente para acesso pedonal, sendo também arborizado.

A construção do edifício existente data da década de 40 do século XX, provavelmente após a elaboração do Plano Geral de Urbanização de Setúbal, em 1944. Trata-se de uma edificação em estilo “português suave”, com três pisos, sendo o último em águas furtadas. As suas características estéticas definem os pressupostos arquitectónicos das décadas de 30 a 60, ao proporem a junção dos padrões modernistas e tradicionalistas da época.  Prevê-se a manutenção e reabilitação integral da sua fachada principal e cobertura e, a tardoz, a alteração do alçado ajustada ao programa proposto, retirando todos os elementos dissonantes introduzidos ao longo do tempo. Ao nível interior, propõe-se a manutenção da estrutura tipológica de distribuição dos compartimentos - através do corredor central - com a introdução de um ascensor e alteração da constituição das paredes de modo a preencher os requisitos térmicos e acústicos actuais - e também a reabilitação dos acessos verticais existentes. 

A proposta conta com 26 fracções para habitação de tipologias T0, T1 e T2, 5 unidades comerciais, 26 lugares estacionamento e 10 arrecadações.